sábado, 4 de janeiro de 2014

DOS BICHOS DE ESTIMAÇÃO E DAS LIÇÕES QUE DEIXAM

"ninguém é suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão. ( são francisco de assis)"

aos dois anos cometi um crime que só me foi revelado aos quase 30, meio sem querer. todos sabiam menos eu. e todos fizeram segredo para me proteger do meu próprio ato.

sultão e brigite era um casal de vira-latas que tinha lá em casa. ele preto, ela laranja. eu gostava deles, apesar do medo de me morderem. um dia nós fomos embora e sem poder levá-los me perdi deles pra sempre, mas aprendi que a vida também se faz com despedidas.

eu tinha um galo de campina, um passarinho lindo com as cores do time do meu avô e da minha mãe e o nome da minha cidade natal. sem querer me separar dele, levei no avião, escondido e protegido por um papel de presente. eu tinha 5 anos. ele ficou doente e eu sofri. minha mãe precisou usar da terapia de choque pra que eu engolisse o choro. ele ficou bom, arrumou novos amigos e fugiu. sofri, mas entendi que a liberdade é direito de todos.

tico e teco eram dois coelhinhos lindos e fofos que eu adorava brincar e por no colo. um dia não resistiram à liberdade anunciada em mata aberta e se foram. sofri, mas aprendi que por melhor que tratem a gente, a nossa casa é sempre o melhor lugar pra se estar.

aí vieram os peixinhos que brincavam com a minha sereia de plástico. a gente viajou e na ânsia de não deixá-los passar fome, demos comida demais e eles morreram. sofri, mas aprendi que exageros não são bons e a que a busca deve ser sempre pelo equilíbrio. eu tinha 7 anos.

outros vieram e se foram. os meus, de amigos, vizinhos...e sempre que eles iam eu sofria. foi quando decidi que não queria mais bichinhos de estimação, não queria mais o apego, nem a dor das partidas que aconteceriam de um jeito ou de outro.

e foi por isso que me esconderam o crime que cometi.

aos dois anos, na intenção de dar banho no meu pintinho amarelinho, o afoguei no tanque. minha mãe foi testemunha e me disse que ele estava dormindo. acreditei e esqueci. anos depois na revelação me senti cruel, mesmo sendo inocente.

e aí aprendi que a gente machuca mesmo sem querer, e sem querer podem nos machucar. então aprendi a não julgar sem antes perguntar e, sobretudo, ouvir. e aprendi a perdoar. e aprendi que a gente não deve ter medo de se apegar, se isso implica em viver.