COISAS DO BAÚ - V PARTE

como seria hoje, se ontem tivesse sido diferente do que foi? se besteira foi não fazer, por que pareceu que fazer, seria besteira? seria tão doce a lembrança de hoje se houvesse ainda mais do que se lembrar? o que foi feito está feito e virou saudade. do que não se fez, ficou a vontade que dá asas à imaginação.

Publicado em www.videverso.wordpress.com em 13 de dezembro de 2006

REMENDO

“o maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se” (vinícius de moraes)

igual roupa velha
remendei meu coração
cheio de talhos
das farpas por onde passou
carecia de cuidado
cuidei

como não se sabe o que vem pela frente
guardei linha, agulha e tecido.

PASSA

"todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão. eu passarinho!" (mario quintana)

uva passa
tempo passa
ferro passa
ônibus passa

passadeira
passarela
passarinho

passa.
tudo passa.

FAZENDO AS CONTAS

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.” (trecho do conto perdoando deus, clarice lispector)

será que eu, que nunca fui boa em contas,
sou capaz de subtrair pra poder somar e depois dividir e assim poder multiplicar?

DESITIR DE DESISTIR

“então, e como sempre, era só depois de desistir das coisas desejadas que elas aconteciam” ( trecho do conto a procura de dignidade, clarice lispector)

se for assim desisto.
desisto do desejo 1,
do desejo 2,
do desejo 3
desisto de todos de uma vez.

não.
insisto.
prefiro continuar desejando
do que viver sem desejos.

COISAS DO BAÚ – IV PARTE

continuo seguindo. me guio pelas luzes, as de dentro e as de fora. controlo a velocidade. rapidez pode me fazer errar. lentidão pode fazer com que eu não chegue. ponho a mão na direção. direção do meu destino. destino dos outros que vejo pela janela. buzino. quero que a vida me escute. acelero. freio. dou partida. sigo.

Publicado em www.videverso.wordpress.com em 27 de setembro de 2006

VONTADE

todo mundo tem alguma vontade, alguma coisa instigante, algo incontrolável, diferente, um desejo alucinante (paulinho moska)

vontade de nada,
e de tudo também.
nada de vontade.
também, tudo dá vontade!
nada também faz passar a vontade...
de não fazer nada,
só ficar à vontade.

CÚMPLICE

“finalmente você me tornou sua cúmplice (jennifer connely, como emma darwin, no filme criação)”

cumplicidade.
não há invasão, mas parcerias
não há metades, mas dois inteiros
não há mentiras, mas verdades
não há egoísmos, mas compartilhamento
onde há cumplicidade há amor mais resistente e sorriso mais contente

COISAS DO BAÚ - III PARTE

passei a semana pensando em marca. era tema de aula, acabou me marcando. aí fiquei pensando nas coisas que marcam. uma palavra no meio do silêncio da solidão; um sorriso aberto pra um coração fechado; um olhar profundo (pra quem não sai do raso por medo do mergulho); a pegada na mão no escurinho do cinema; ser madrinha, a “primeira vez”, quantas vezes forem; a única vez, as várias vezes. muita coisa marca, mas pra marcar mesmo tem que ter verdade. verdade de um segundo, verdade de um momento, verdade de uma vida. a verdade, é que a marca de verdade marca, marca de verdade.



Publicado em www.videverso.wordpress.com em 19 de setembro de 2006

COISAS DO BAÚ - II PARTE

abre a porteira desse mundo que aí dentro se esconde. abre as asas e voa pela vida como um pássaro em liberdade. destranca a fechadura que te enclausura. abre os olhos pro céu azul, recebe a chuva ou encara o sol. vive, vive em comunhão, derruba muros, cercas e constrói um mundo melhor. abre a porteira…



publicado em http://www.videverso.wordpress.com/ em 16 de setembro de 2006

COISAS DO BAÚ - I PARTE

já foi. foi sem despedida, pois despedidas são tristes. foi de novo. de novo o mesmo sonho, a mesma vontade, mas não mais do mesmo jeito. pois uma vez que se volta, quando se vai, vai diferente. fracasso? não. falta de sorte talvez. injusta vida que separa a gente de quem a gente gosta. injusta saudade que ataca sem pedir licença que não cessa senão com a presença. e essa presença nem sempre se faz presente. já foi. mas um dia há de voltar, de novo, e pra ficar.

publicado no http://www.videverso.wordpress.com/ em 11 de setembro de 2006