“mulher! mulher! na escola em que você foi ensinada, jamais
tirei um 10. sou forte, mas não chego aos seus pés...” (erasmo carlos)
quero ser vista como o que sou: mulher.
sem comparações, simplesmente mulher.
quero respeito com cartão gentil, quero sorrisos em caixas
de presentes, reconhecimento em laços de fita.
quero companheirismo em papel de bombom, abraços
despretensiosos e a certeza de não ter minha competência medida pelo
comprimento de minha saia.
desejo ainda um sócio para o empreendimento chamado vida a
dois, com cotas iguais de direitos e deveres e a renovação contratual periódica
para o bem de ambas as partes.
deslumbro um céu azul sem photoshop e guarda-chuva
resistente para os dias de temporais.
quero manter a doçura mesmo em tempos de guerra e redigir
bons tratados de paz.
criar filhos ou não e não ser taxada por isso; ser sexy, ousada ou tímida e não
ter patrulhamentos em minha porta.
quero preparar café na cama sem submissão e dizer não quando
for vontade.
ser admirada por minhas ondas cerebrais e por minha curvas,
fartas ou não, por quê não?
dialogar com iguais e diferentes, ouvir e aprender sem
limites. começar e recomeçar seja lá o que for quantas vezes for e não ter
vergonha por isso.
errar sem julgar, acertar sem ser julgada, viver sem medo do
veredicto alheio.
quero não ser vitima de violência, nem velada nem
escancarada, nem de fala nem de toque.
divertir-me com a guerra dos sexos bem humorada, fazer piada
das piadas sobre mim sem exageros politicamente corretos.
não quero só um só dia, quero muitos, não só pra mim, mas
para todos.
quero não precisar provar nada, a não ser torta de chocolate
e calça jeans 38.
quero celebrar a condição feminina com trocas de poemas e
não de farpas.
quero ser amélia se me der vontade e tatchter se for
preciso.
sou tão multifacetada e camaleoa que quero tudo e tudo tenho
pra oferecer pra quem fizer por merecer.
quero frescor pela memória daquelas que em chamas clamaram
por direitos que ainda nos devem.
