quarta-feira, 4 de julho de 2012

O MURO E O DEFINITIVO

"era uma casa muita engraçada, não tinha teto, não tinha nada..." (vinícius de moraes)







depois de muitos, muitos anos, o muro que eu usava como referência para ensinar meu endereço se foi. Foi-se o muro e a casa toda. 


o muro de pedras era uma espécie de prova de coragem, pois era lá que os cachorros ficavam soltos, latindo, enquanto eu ia na padaria, na locadora...foi-se. incrível como o definitivo não existe. 


nunca pensei assistir a queda deste muro, mesmo tendo "visto" o de Berlim receber o mesmo fim.


era mais que um muro. mais que uma casa. mais que uma árvore frondosa cujos frutos os caseiros entregavam pra pirralhada pidona da qual eu fazia parte.
era parte de algo que para mim era concreto, seria pra sempre a forma de ensinar onde ficava a minha casa. Foi-se.


e porque nem mesmo as pedras enormes deste muro resistiram ao tempo, ao progresso a certeza que nada é definitivo, por mais que a gente queira que seja, se esforce pra ser, se concretiza nas batidas do bate-estaca que prepara o terreno para um novo prédio.


e porque nada é mesmo definitivo  precisamos ser mais leves em nossas escolhas, arriscar mais, experimentar mais, sabendo que a qualquer momento podemos voltar a trás, começar de novo, diferente, com cicatrizes às vezes, mas começar de novo.


e nisso tudo, a única coisa que não pode ir abaixo junto com o muro é o respeito por nós mesmos e pelo próximo. é a clareza das escolhas e ausência de promessas que podemos não ser capazes de cumprir, porque nada é definitivo, por mais que a gente deseje que seja.